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IPA 2017 reúne pesquisadores internacionais para discutir o brincar

Quais são as possibilidades do brincar às crianças no mundo de hoje? As crianças estão, de fato, brincando menos na atualidade? Como o brincar está sendo compreendido na sociedade, nas cidades e nas escolas pelo mundo? Estas foram algumas das inquietações levantadas por pesquisadores do brincar que estiveram reunidos entre os dias 13 e 16 de setembro em Calgary, no Canadá, durante o “The International Play Association – IPA 2017”.

A coordenadora do programa Território do Brincar, Renata Meirelles, participou do encontro para acompanhar as palestras e debates ao longo desses quatro dias. O congresso internacional do IPA é realizado a cada três anos, reunindo centenas de pesquisadores e defensores do brincar de mais de 30 países com o objetivo de celebrar, entender os benefícios, trocar ideias e inspirar ações para promover o brincar livre a todas as crianças.

A palestra de abertura do congresso foi feita pelo pesquisador Peter Gray, que trouxe como foco principal a diminuição do brincar na sociedade. No palco, o pesquisador defendeu a brincadeira como maneira natural das crianças desenvolverem habilidades essenciais para a vida. No entanto, para ele, a escassez do brincar, que tem sido uma realidade há décadas, está provocando consequências diretas no desenvolvimento mental da criança. “Em nome da educação, estamos tragicamente tirando o brincar das crianças”, lamentou.

Gray criticou ainda o fato de a sociedade contestar que, hoje em dia, as crianças não desenvolvem determinadas características de aprendizado, já que, para ele, não há solução para isso “se não ampliarmos a possibilidade das crianças brincarem livremente”. Seus dados e observações levam a crer que a escassez do brincar se deu a partir de 1960, apoiado em algumas causas como o aumento da supervisão dos adultos (o que gera uma mensagem implícita de incapacidade infantil e, consequentemente, da necessidade de proteção) , traçando uma infância que está longe de suas potencialidades. Diante disso, o pesquisador enfatizou a necessidade de deixar as crianças brincarem livremente, assegurando tempo para o desenvolvimento de tais atividades.

A relação do brincar com as cidades também foi um dos temas abordados no congresso, sob a bandeira de projetos como “London Play City” e “Tokyo Play City” – que propuseram ações similares em seus países. Com o apoio do IPA, esses projetos se uniram para trocar experiências, soluções e encaminhamentos de práticas que promovem e incentivam o brincar das crianças em espaços públicos como parques, praças e ruas.

Tóquio, no Japão, por exemplo, vive em uma realidade na qual o número de adultos tem crescido consideravelmente, ao contrário do número de crianças, que reduziu. Em 1920, existiam 1,3 adultos para cada criança, permitindo a elas ter mais liberdade e menos supervisão. Atualmente, são quase 6 adultos japoneses por criança e, no futuro, a previsão é de que esse número suba para 10. Soma-se a isso o fato de que o país traz pouca visibilidade ao direito das crianças, e também de que há uma forte pressão acadêmica e clima de competitividade sendo incentivado entre as crianças e jovens dali. Diante dessa situação, como mudar a realidade? Como trazer um cenário mais lúdico, corporal e instigante às crianças? É aí que entra a importância de projetos como o “Tokyo Play City”, que atua para tornar Tóquio uma cidade “brincante”, por meio de estratégias e ações que criem ambientes que acolham o brincar das crianças.

Uma das iniciativas propostas por eles é a campanha “10 coisas perigosas para fazer na infância”, que incentiva pais e mães a permitirem as brincadeiras de risco – e não perigosas – às crianças, como saltar das alturas ou brincar em volta de fogueiras. O projeto também viabilizou, em 2013, a criação oficial do “Dia do Brincar” em Tóquio. Anualmente, no dia 1º de outubro, a cidade abre seus espaços públicos para o livre brincar – seja nas ruas ou até mesmo em lugares mais inusitados, como as quadras onde ficam as estações de trem.

Para Renata Meirelles, o congresso cumpriu seu papel ao trazer um alto grau de discussão sobre o brincar, sob a perspectiva de diferentes realidades. “Conheci projetos e pessoas do mundo todo bastante comprometidos com o tema e com a necessidade de ampliar as possibilidades do brincar para as crianças. Eu diria que são, de um modo geral, grandes ativistas do brincar”, relata.

A próxima edição do IPA ocorrerá em 2020, em Jaipur, na Índia.

 

 

4 thoughts on “IPA 2017 reúne pesquisadores internacionais para discutir o brincar

  1. Parabéns! Estamos num momento que falar de brincar livre,É visto como algo da ordem do descaso, da NÃo importância… alguns professores não admitem esse termo ” brincar livre”… que LÁSTIMA. Mais uma militância: o brincar e o brincar livre. Esse ato libertador de fruição e criação. Conquistamos em nossa cidade a semana Municipal do brincar. Uma lei que garante que nessa semana vamos mobilizar ações para a importância do BRincar. GRATA por estarem nos apoiando. Abração.ROSANE Romanini.

    1. Cara Priscila, sugerimos que acompanhe o site institucional do IPA para acompanhar a agenda de eventos da instituição. Abraços! Equipe território do Brincar.

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